Segunda-feira, 18 de março de 2024
Bolsonaro falou ao lado do governador Cláudio Castro (PL) e do
senador Flávio Bolsonaro (PL)
Jair
Bolsonaro (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou
neste sábado (16) em evento político no Rio de Janeiro a questionar decisão do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que o tornou inelegível por oito anos após
mentiras e ataques ao sistema eleitoral. ‘Me tornaram inelegível por quê?’,
disse Bolsonaro a seus apoiadores.
Em sua fala, Bolsonaro relembrou de eleições passadas e disse que “decisões
erradas têm o seu preço”. Citou de novo sua trajetória até a Presidência, ao
ser eleito em 2018. Falou de seu governo (2019-2022) e da ascensão de Tarcísio
de Freitas (Republicanos) até chegar ao Governo de São Paulo.
Bolsonaro falou ao lado do governador Cláudio Castro (PL) e do senador Flávio
Bolsonaro (PL), seu filho mais velho. O evento misturou política e religião o
tempo inteiro. Entre os apoiadores, havia bandeiras de Israel misturadas entre
as do Brasil, assim como em ato recente na avenida Paulista, em São Paulo.
Um dia antes, enquanto o ministro Alexandre de Moraes, do STF, retirava o
sigilo de depoimentos do inquérito que apura tentativa de golpe após as
eleições de 2022, o ex-presidente participava de eventos em clima de campanha
eleitoral. Em trios elétricos, com apoiadores de verde e amarelo e discursos,
Bolsonaro percorreu seis cidades do litoral do estado do Rio de Janeiro,
apresentando candidatos a vereador e a prefeito nesses municípios da região dos
Lagos.
Nesta sexta-feira, a divulgação de 27 depoimentos dados por militares,
políticos e ex-assessores de Bolsonaro reforçou a suspeita investigada pela
Polícia Federal sobre a atuação do ex-presidente no comando de uma trama para
mantê-lo no poder e evitar a posse de Lula (PT).
Duas figuras-chave, os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire
Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, fizeram afirmações que
implicam não só Bolsonaro, mas também seu ministro da Defesa, o general Paulo
Sérgio Nogueira, e o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier
Santos.
Os depoimentos dos dois comandantes trazem detalhes de reuniões e pressões que
apontam para uma discussão na alta cúpula da gestão Bolsonaro para a adoção de
medidas de exceção que incluiriam a prisão de autoridades, como o presidente do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.
Bolsonaro já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema
eleitoral, por exemplo, e é alvo de diferentes outras investigações no STF.
Neste momento, ele está inelegível ao menos até 2030.
Caso seja processado e condenado pelos
crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado
democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma
pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos. Bolsonaro
ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes
levaram a Polícia Federal a deflagrar uma operação que mirou seus aliados em
fevereiro.
As próximas etapas são a finalização da investigação pela PF, análise da PGR
(Procuradoria-Geral da República) e definição por parte do STF se Bolsonaro se
transforma em réu para ser julgado em seguida pelo plenário. Caso não se
justifique uma preventiva até lá, a eventual prisão dele ocorreria somente após
essa última etapa, caso condenado.
O evento deste sábado teve como objetivo “bancar” a escolha do deputado federal
Alexandre Ramagem (PL-RJ) como pré-candidato à prefeitura da capital. A ida do
ex-presidente tem como objetivo reunir bolsonaristas em torno do ex-diretor da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), cuja indicação para a disputa foi
colocada em dúvida após Ramagem se tornar alvo de investigação da Polícia
Federal.
O evento ocorreu na quadra da escola de samba Mocidade Independente de Padre
Miguel, na zona oeste da capital. A região foi umas das que ampliaram a vitória
de Bolsonaro sobre o presidente Lula na cidade.Presente no palanque, o
governador Castro chegou a promover um almoço com aliados para cobrar apoio a Ramagem.
A tentativa de articulação do governador, contudo, ainda não prosperou.
Após as operações da PF, interlocutores do governador passaram a indicar
interesse em ampliar o número de candidaturas da base de seu governo. Uma delas
é do deputado Marcelo Queiroz (PP).
A ida de Bolsonaro, neste cenário, serviu como pressão para Castro se associar
ou não ao indicado pelo ex-presidente para a disputa.
A pré-candidatura de Ramagem se tornou uma incógnita após ele se tornar alvo de
investigação sob suspeita de participação no monitoramentos ilegais feitos
durante sua gestão na Abin. A PF cumpriu em janeiro mandados de busca e
apreensão no gabinete e no apartamento funcional de Ramagem, que também teve
seu celular apreendido. O deputado nega as acusações.
A ala mais próxima do ex-presidente traça uma estratégia de colocar Ramagem
como um perseguido político e alvo de uma conspiração entre o STF (Supremo
Tribunal Federal), que autorizou a operação, e o governo Lula. A ideia é que,
assim, a disputa fique ainda mais polarizada com o prefeito Eduardo Paes (PSD),
pré-candidato à reeleição, fazendo com que o engajamento gerado beneficie o
parlamentar.
Por: Folhapress