Pastoras Lésbicas reúnem
milhares de evangélicos homossexuais.
Domingo, 01 de Fevereiro de 2015
Diz
a tradição cristã que enxurradas de enxofre e labaredas de fogo caíram do céu
no dia em que Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra e matou todos os seus
habitantes. Esse teria sido o castigo divino pelos pecados que os cidadãos
tinham cometido: assassinato de crianças e idosos, estupros e sexo grupal entre
homens. Assim, os sodomitas, tais como os ladrões e tantos outros criminosos
listados na Bíblia, não herdariam o reino dos céus.
A história é repetida à exaustão hoje em templos evangélicos
como a prova de que Deus condena os homossexuais. Programas de televisão
pentecostais defendem a “cura gay” apoiados nessa passagem do texto bíblico e
defendem que reverter a sexualidade não só é possível como necessário para
evitar o encontro com o Diabo. “A verdade é que ninguém quer ir pro inferno”,
diz Lanna Holder, 40 anos, sete dos quais passou defendendo essa tese.
Em
1996, aos 21 anos, ela entrou para a Assembleia de Deus, a maior organização
evangélica do Brasil, em busca de solução para dois problemas que considerava
graves: o uso de drogas (Lanna cheirava cocaína, fumava maconha e bebia muito)
e a atração por meninas. O primeiro ela solucionou depois de um só culto. Já o
segundo, descobriu ser mais difícil.
Em 2011, erguida com as economias de ambas, surgiu a Comunidade
Cidade de Refúgio – no mesmo período em que o casamento gay passou a ser legal
no Brasil e elas viraram esposas pela lei. Havia cerca de 200 pessoas na
inauguração.
Desde então, o número se multiplica exponencialmente (três anos depois, a
quantidade de fiéis – vários com histórias parecidas com a do casal – já é dez
vezes maior) hoje, é a igreja inclusiva que mais cresce no país. Tanto que, no
culto, a voz de Lanna se dirige às muitas pessoas no salão da igreja, mas não
só. Há fiéis que acompanham ao vivo pela internet, no interior do país, em
Portugal, nos Estados Unidos e no Japão. A lista dos locais conectados é lida a
cada domingo, um jeito de aproximar o público online da sede, na Avenida São
João.
Lá, um telão instalado no subsolo leva a imagem da pastora aos
que não couberam no salão principal. De um espaço improvisado, cheio de gente
com vontade de se tornar visível, surgem vozes guturais, sufocadas. Juntas, as
fiéis gritam: “Aleluia!”.
Lanna
Holder Tem a seu lado a mulher, a cantora Rosania Rocha, 41 anos, que também
lutou por anos contra a própria natureza. A Comunidade Cidade de Refúgio é
fruto da história de amor das duas pastoras e já possui quatro filiais além da
sede, no Centro de São Paulo, onde os cultos dominicais extrapolam a lotação
máxima de 300 fiéis – quase todos gays. Este ano, um novo templo, com
capacidade para 2 mil pessoas, será inaugurado.
Fonte: MarieClaire